quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dia 5 em 5 atos





1 – O pé esquerdo

Acordei colocando o pé esquerdo no chão e já achando que isso era um mau sinal. Após cumprir a rotina matinal, incluindo algumas canções no violão, que quase me fazem perder a hora, me encaminho para porta e lá fora encarar o mundo novamente.
Abro a porta / passo /fecho a porta
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 passos contados até o portão
Ao passar, me vejo dando o primeiro passo com o pé esquerdo novamente. Mas antes de conseguir pensar que tudo daria errado novamente, meus ouvidos são somados por uma risada gostosa de um bebê, que na imaturidade dos seus 10 meses, me fez perceber e entender que começar com o pé esquerdo não influencia em nada como será meu dia. Meu priminho começa sua primeira caminhada (ainda cambaleante) com seu pé esquerdo. Um mega sorriso no rosto e vem pros meus braços como se entendesse que eu precisava daquilo. Como se não bastasse, me fez ficar de pé e ao mesmo tempo que usava meu dedo como apoio, me puxava pra dar um passeio do outro lado da rua e depois voltar pra casa. Apontou pro carro e falava comigo em seu dialeto “bebéio”. Demorei um pouco a entender, mas abri a porta. Olhou pra mim, sorriu e estivou o bracinho pedindo pra que eu entrasse no carro.
Entrei
Ele ainda não sabe dar tchau, então, ao voltar pro colo da vó, bateu palmas no lugar de acenar com as mãos.
Ficou me encarando sorrindo até eu dar a partida e sair de casa.
Saí, sorrindo pegando emprestado um pouco da vontade de viver que esse pequeno tem de sobra.



2 – Irmão, vem me buscar?

Bem... não foi bem assim. O pedido foi feito a mãe.
Mas não adianta, apesar de não sermos gêmeos, senti a necessidade de ir até meu anjo mais novo. E fui.
Cheguei na escola, deixei que entrasse no carro e impedi que a mãe o questionasse sobre o ocorrido na saída.
Imaginei várias possibilidades, mas tinha a certeza de que ele sentia-se ameaçado de alguma forma. E me peguei imaginando várias situações do meu irmão sendo cercado por “trocentos” outros caras. E percebi que, por esse cara, eu me transformaria num Power ranger e venceria as forças do mal 3 vezes usando só uma das mãos.

3 – Dermatologista

Fui ao médico hoje. E descobri que a consulta estava marcada pra ontem. ANIMAL MESMO!
Remarquei a consulta pra daqui 1 mês.

4 – Barraco no sinal

Ao sair do consultório, caminhei um pouco pela cidade ouvindo músicas no modo aleatório do celular e imaginando que o eu avistava como o vídeo clipe das músicas que tocavam. Impressionante foi como a música casou com a cena que presenciei do outro lado da rua que estava para atravessar. Aguardando o sinal abrir, encontrei um casal do outro lado da rua. Ela gesticulava super nervosa e falava alto. O som dos carros passando não me deixava ouvir a conversa. Ele, calado, olhava pra frente e a IGNORAVA solenemente. Duas mulheres que conversavam ao meu lado ficaram revoltadas com atitude do cara e uma disse a outra aquela velha máxima: “Homens são todos iguais mesmo! Olha lá! Finge que nem é com ele...”
O sinal fechou pros carros e confesso ter dado alguns passos largos pra chegar mais perto e ouvir a conversa.
O que aconteceu foi o seguinte...
A mulher não conhecia o cara!
Ficou mais estranha a história?
Não...
Ninguém percebeu, mas no meio da conversa o cara deu uns passos pro lado tentando afastar-se dela. Enquanto eu e os outros espectadores achávamos que ele teria feito isso pra evitar ouvir ladainhas da mulher, na verdade ele estava incomodado com a mulher, DESCONHECIDA por ele. Ela falava ao celular e ninguém percebeu o fone de ouvido que ela usava. Olhei pro lado e as duas mulheres que conversavam devolveram minhas risadas.

Perguntei: - Vocês também acharam que eles...?
Elas: - É, pensamos que eles também...

E depois dessa conversa longa e com total sentido, elas foram pra um lado e eu pro outro.

5 – Porta emperrada

Estudando na sala de casa, fui abordado pela minha mãe com uma problemática mííííítica pra resolver. A porta da cozinha não abria de jeito algum!
Forte, como todos sabem, me levantei corajoso, muito macho e determinado. Fui até a porta e decidi usar a mente e não a força pois não preciso provar que sou forte. Olhei do lado de dentro. Examinei cada brecha e... nada. Olhei pelo lado de fora... nada.

- Mãe! Vou ter que usar a força... Afaste-se da porta!

E num ato heróico, lancei-me contra a porta com 30% da minha força.
A porta nem se moveu
Usei então 70% da minha força...

- Mãe! Tira a pia da frente da porta porque devo atravessar com tudo...

A porta nem se moveu, mas a cachorra latiu! Já era um sinal!

Usei 100% da força e o que consegui foi deslocar meu cérebro e fazer com que ele desse 3 piruetas e meia da minha cabeça. Tá doendo até agora.

Então, parei de graça, peguei uma chave de fenda e com o mínimo de força, consegui abrir a maldita porta. Inteligência master...

A moral de todas as histórias?
Vida que segue.
Amanhã tenho que encontrar meu priminho novamente.
Estar preparado pra salvar o mundo do meu irmão com meu megazord.
Tenho médico marcado mês que vem
Aquele cara que ficou ouvindo gritos e foi julgado erroneamente no sinal vai precisar de terapia. Preciso indicar alguns telefones.
E a porta da cozinha vai emperrar novamente. Assim como minha vontade de viver. E assim como na porta da cozinha, não adianta me jogar sem pensar contra isso. Bastam pequenas ações pra que a porta fique livre novamente para que minha vida siga livre novamente.
Você, que leu até aqui, é uma das minhas ferramentas. Qual gostaria de ser e porque?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dia 4 em 4 linhas

Cadê toda aquela preocupação falada e escrita?

Já passou da hora de ser demonstrada...

Muita coisa já passou da hora.

Talvez a minha hora já tenha passado.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Dia 3 em 3 atos

1º Ato



Hoje foi um dia de testes no laboratório.
O Cientista louco, do alto de sua sapiência resolveu testar sua cobaia mais uma vez.
Na verdade, testou diversas vezes, incansavelmente, até a exaustão física e mental. Os experimentos apontaram resistência, mas os resultados ainda são ínfimos perante o esperado.


2º Ato



Mas o que importa mesmo, é achar conforto em palavras que não sei como descrever. Mas de diferentes formas e oriundas de diferentes pessoas, de diferentes lugares, em diferentes situações, essas palavras encontram lugar pra morar no meio do temporal.
Pode pegar a chave da casa, está embaixo do tapete. Meus guardiões conhecem quem é de bem e quem me quer bem, portanto, não será difícil se aproximar e adentrar esses muros que agora estão altos demais.

3º Ato



Só aviso que, dentro do castelo, as coisas mudaram um pouco de lugar. Mas num salão, um pouco escondido agora, confesso, estão guardados os tesouros de um cavaleiro antigo, que vagava por estepes em busca de outros reinos. Lá, estão memórias e bons sentimentos de lugares que visitou, pessoas que conheceu e os reinos propriamente ditos.
Sejam bem-vindos, os jogos estão para recomeçar.
Tomem seus lugares e apreciem o show.

domingo, 2 de outubro de 2011

Piscar de olhos







É como se eu perdesse o direito de ser feliz.

(Ser diferente de estar)

Dizem encontrar em mim tranqüilidade, mas não reconheço essa pessoa que me habita agora.

Caio F. de Abreu diz:
“Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar.”




Tudo parecia tão natural quanto piscar os olhos. De repente, desaprendi a piscar e agora meus olhos ardem por passar, atônitos, muito tempo abertos.

“Me deixa esquecer teu nome”
Transmissor